Richard Feynman |
Richard Feynman foi indiscutivelmente um cara brilhante. Sua forma de ver e pensar sobre o mundo e a física tinha um jeito especial, alguns diriam até pouco convencional. Sua obra atinge as mais variadas áreas da Física moderna, passando pela nanociência até a teoria da eletrodinâmica quântica, área na qual seus trabalhos lhe renderam o Nobel de Física em 1965, época em que estava no auge dos seus 47 anos de idade.
Poderíamos estender essa introdução falando da maravilhosa carreira de Feynman, mas realmente não quero tornar esse texto grande demais e fugir ao tema principal, por enquanto, basta ao leitor ter uma noção da importância deste físico e porque são relevantes suas opiniões sobre o ensino de física no Brasil. Em todo caso, fica como indicação a leitura da edição especial sobre Feynman da Gazeta da Física da Sociedade Brasileira de Física de Portugal.
Mas afinal, o que Richard Feynman tem a ver com o Brasil?
Entre 1949 e 1966 ele esteve no Brasil e durante esse período deu aulas em cursos de graduação em física, palestras sobre eletrodinâmica quântica, sobre o Ensino de Física e até desfilou no carnaval do Rio de Janeiro. O que nos chama atenção, entretanto, foi justamente sua experiência com o Ensino de Física no nosso país e suas duas conferências realizadas aqui, nas quais Feynman compartilha abertamente sua visão sobre o ensino brasileiro.
Além, destas duas conferências, ele também escreveu um capítulo dedicado ao tema em seu livro Só pode ser brincadeira Sr. Feynman!, um livro que rodou o mundo e que mostrou para os gringos um pouco do que acontecia (ou seria acontece?) por aqui.
Baseado nestas ocasiões que o autor Ildeu de Castro Moreira traça uma comparação entre o que Feynman achou do ensino de Física na época e de como ele está hoje, de acordo com do conhecido Marco Antônio Moreira em seu trabalho Ensino de Física no Brasil: retrospectiva e perspectivas.
Ensino de Física no Brasil segundo Richard Feynman
Feynman, em sua primeira palestra, de acordo com texto publicado pelo biólogo Oswaldo Frota-Pessoa, declarou logo: não estamos ensinando nada de ciência. Para ele, ensinar ciência é colocar o estudante em contato com o fenômeno e com a natureza, deixar ele experimentar, investigar e alimentar sua curiosidade.
Já no Brasil, ocorre o oposto: é muita memorização das fórmulas, uma física sem sentido no cotidiano do estudante e com o livro didático sendo como um dicionário, ou uma bíblia que rege o ensino e o pior é que além de transformarmos o livro nessa divindade, ainda usamos livros ruins. Tais coisas foram fortemente criticadas sempre que Feynman teve a oportunidade.
O físico ainda continua: Os estudantes não sabem trabalhar em grupo e impera uma cultura estranha na qual eles têm medo de perguntar, medo de errar e medo de que os outros saibam que eles não sabem e os poucos estudantes que aprendem apesar do sistema de ensino, por falta de oportunidades, no fim das contas acabam deixando o país, o que é péssimo para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia por aqui.
Essas foram só algumas das críticas de Feynman, embora hoje talvez não seja surpresa para nós professores algumas destas observações sobre o nosso ensino mas, na época foi um choque de realidade muito grande para muitas pessoas que chegavam até a acreditar que estávamos fazendo um ensino de qualidade por aqui. Devemos lembrar, porém, que isso foi nos anos 50, você não acha estranho ainda nos identificarmos com essas críticas?
Mas vamos observar mais de perto o que ocorre com o ensino agora, nas últimas décadas.
O Ensino de Física atual no Brasil segundo Marco Antônio Moreira
A dependência do livro didático ainda permanece um problema em todos os níveis de ensino no Brasil e, da mesma forma, pôr o estudante em contato com os fenômenos ainda configura um desafio, seja por problemas de estrutura ou financeiros das escolas ou pela falta de formação adequada dos professores. Nesses dois aspectos, percebe-se uma perpetuação do modelo de ensino que Feynman experimentou quando esteve por aqui.
O autor Ildeu, baseado no trabalho de Moreira, destaca que nem tudo continua igual. As diretrizes e orientações para o Ensino Médio foram bem modificadas no que diz respeito a investigação, cooperação entre estudantes e flexibilização do currículo e atualmente se alinham mais a ideia de ensino que Feynman tinha, já por outro lado, questões como a desvalorização do professor e dos baixos salários só pioraram desde então.
Na prática, temos visto muitos esforços para mudar esse quadro do ensino, mas ainda, sem muito sucesso quando olhamos para o contexto geral do país. Já conhecemos os problemas e algumas soluções, elas estão aí, nos debates acadêmicos, nos artigos, nas teses, dissertações, nos podcasts e vídeos. Cabe a cada profissional da educação, ao governo e a sociedade de modo geral trabalhar para implanta-las de forma efetiva - a responsabilidade para com o ensino é de todos nós.
Referências:
MOREIRA, Ildeu de Castro. Feynman e suas conferências sobre o ensino de física no Brasil. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 40, n. 4, 2018.
MOREIRA, Marco Antonio. Ensino de Física no Brasil: retrospectiva e perspectivas. Revista brasileira de ensino de física. São Paulo. Vol. 22, n. 1 (mar. 2000), p. 94-99, 2000.
R.P. Feynman, Sobre as leis da física (Contraponto, Rio de Janeiro, 2012)
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